Volta do Encanto: Um Circuito pelas Cachoeiras de Natuba e São Vicente Férrer

NordesteParaíba2 meses atrás80 Visualizações

Descubra o agreste em um trekking repleto de cachoeiras, mirantes e a beleza da Mata Atlântica.

Este roteiro foi publicado originalmente no meu Wikiloc em 2024 e agora está disponível aqui no site. Para conhecer sobre o projeto TemTrilha, visite a página Sobre.

Informações

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Desde que vi alguns registros das cachoeiras de Natuba, surgiu a curiosidade de visitar a região no modo trekking. Logo tratei de incluir essa ideia na minha lista de trilhas. 

A ideia era criar um roteiro que conectasse as cachoeiras mais conhecidas com outros atrativos da região. A primeira dúvida foi se o percurso deveria ser uma travessia ou um circuito.

O percurso foi cuidadosamente planejado para conectar as atrações pelo caminho, utilizando apenas trilhas e estradas já disponíveis — sem abertura de novos caminhos.

Um dos pontos altos dessa experiência foi o mapeamento da então Cachoeira do Descanso, em São Vicente Férrer — até então desconhecida por mim e, ao que parece, ainda pouco conhecida na região. 

Todo o trajeto foi elaborado por mim, sem recorrer a tracklogs pré-existentes. Estou disponibilizando este roteiro para que você possa planejar sua aventura, aproveitando cada parada e cada detalhe da região.

No geral, a trilha percorreu trechos do agreste paraibano e pernambucano, passando por seis cachoeiras: sendo quatro em Natuba e duas em São Vicente Férrer.

Natuba é conhecida por concentrar diversas quedas d’água, então era natural começar o planejamento por elas. Fiz um mapeamento das cachoeiras e, em seguida, busquei outros atrativos próximos. 

Percebi que, a leste, em São Vicente Férrer, fica o Refúgio de Vida Silvestre Matas de Siriji, um fragmento de mata atlântica que considerei interessante incluir no roteiro, possivelmente como ponto de pernoite. Já ao sul, também em Natuba, está a Cachoeira do Encanto, que se mostrou outro atrativo viável para o percurso.

Considerando a localização dessas atrações, um trekking em formato de circuito parecia a melhor escolha. Além de facilitar a logística de transporte, se encaixava bem como um roteiro de fim de semana. 

Assim, a trilha foi estruturada para começar e terminar em Natuba, passando por São Vicente Férrer, em dois dias de caminhada, com pernoite em acampamento selvagem.

Como Chegar

Ao se aproximar de Natuba, no Agreste paraibano, a paisagem vai lentamente se transformando: as serras surgem ao horizonte, o vale do Rio Natuba se revela e o clima interiorano começa a se fazer presente.

A cidade está a cerca de 135 km de João Pessoa, 90 km de Campina Grande e pouco mais de 100 km de Recife, e cada estrada que leva até lá reserva pequenos trechos de verde e comunidades que dão um gostinho da região.

Quem sai de João Pessoa percorre a BR-101 e entra por Goiana (PE), sentindo a mudança gradual da planície costeira para o agreste serrano. Já a viagem de Campina Grande, pela BR-104, leva por Queimadas e Umbuzeiro, e revela o Agreste em cada curva da estrada.

De Recife, a rota pela BR-101 permite acompanhar o relevo mudando, com áreas de mata, pequenas colinas e vilarejos que pontuam o caminho.

Ao chegar em Natuba, a sensação é de entrar em um recanto onde o tempo parece mais devagar, perfeito para explorar suas cachoeiras, trilhas e a história do vale do Rio Natuba.

O Circuito

A caminhada acontece em formato de circuito, com início e fim na cidade de Natuba. O percurso passa por um trecho do agreste paraibano e depois segue até o agreste pernambucano, passando pela região de São Vicente Férrer.

Como o ponto final coincide com o início da trilha, a logística é facilitada. O trekking, pode ser realizado em dois dias, percorrendo trilhas em áreas de Mata Atlântica e estradas de terra. Os caminhos já existem, na sua maioria abertos e bem demarcados.

Natuba está localizada no Agreste paraibano e faz divisa com Pernambuco, por meio da vizinha São Vicente Férrer. Situada ao pé da Serra da Água Fria, a cidade tem como principal curso d’água o Rio Natuba, que integra a bacia do Rio Paraíba.

Apesar do predomínio da fruticultura, como o cultivo da uva, a região ainda preserva importantes fragmentos de Mata Atlântica. Dentre elas a Mata do Siriji, também chamada de Mata do Estado, e, na serra vizinha, a Serra do Mascarenhas.

Esses trechos formam um mosaico de florestas de baixa altitude (cerca de 400 m), essenciais para a preservação da fauna e da flora e, por meio de suas nascentes, para o abastecimento das bacias do Rio Capibaribe-Mirim e do Rio Paraíba.

Além de caminhar pelo agreste em meio à vegetação e ao relevo serrano, a travessia oferece outros atrativos, como mirantes e seis cachoeiras. O percurso tem início em Natuba, passa pela região de São Vicente Férrer e retorna à cidade de origem.

Em Natuba, visitamos quatro cachoeiras:

  • Cachoeira da Bica Grande, Cachoeira do Sossego, Cachoeira das Três Quedas e por último a Cachoeira do Encanto;

Em São Vicente Férrer, passamos por mais duas:

  • Cachoeira do Descanso e Cachoeira das Duas Quedas;

Sendo essas últimas, até então pouco conhecidas na região, foram exploradas durante o segundo dia de trilha.

O percurso também passou pela Mata do Siriji, uma área de 645,94 hectares de Mata Atlântica, conhecida localmente como “Mata do Estado”. Essa Unidade de Conservação (UC), do tipo Refúgio de Vida Silvestre (RVS), está situada na Serra da Água Fria, no município de São Vicente Férrer.

O percurso atravessa extensas áreas de cultivo de frutas, como banana, uva e goiaba. Visitamos o Parreiral da Serra, mas, por não ser época de colheita, não encontramos os cachos de uva; para vê-los, recomenda-se visitar a partir de outubro. A banana é a principal cultura da região, que está entre as maiores produtoras de Pernambuco.

Durante a travessia, devido à complexidade do percurso, é imprescindível o uso de GPS (em celular ou dispositivo dedicado) ou mapas. Grande parte da trilha está bem marcada e aberta. Toda a água para consumo foi obtida em riachos e córregos que descem da serra, e o caminho também passa por sítios e pequenas comunidades no alto da serra.

O primeiro dia (Dia 1: Natuba à Serra da Água Fria) começa no Parque Ambiental de Natuba e sobe a Serra da Água Fria em direção à Comunidade Juçaral. As principais atrações neste dia são as três cachoeiras de Natuba: Cachoeira da Bica Grande, Cachoeira do Sossego e a Cachoeira das Três Quedas. A caminhada termina na Serra da Água Fria, já em território de São Vicente Férrer, onde montamos um acampamento selvagem. Há diversos pontos de água pelo caminho.

O segundo dia (Dia 2 – Serra da Água Fria a Natuba) fecha o circuito pela região de São Vicente Férrer. O percurso passa por mais três cachoeiras: Cachoeira do Descanso, Cachoeira das Duas Quedas e Cachoeira do Encanto (já em Natuba).

O roteiro inclui todas as atrações, pontos de pernoite, locais de água e principais bifurcações. A seguir, apresenta-se o relato com a logística e mais detalhes da trilha.

Dia 1: Natuba à Serra da Água Fria

Distância: 10,1 km | Elevação: 475 m

O deslocamento até a cidade de Natuba foi feito um dia antes do trekking. Como teríamos um longo trecho de caminhada já no primeiro dia, chegamos na véspera para poder iniciar cedo no outro dia. Ficamos hospedados na Pousada Natuba e, à noite, saímos para jantar e conhecer um pouco da cidade.

Para quem prefere acampar, o Parque Ambiental de Natuba oferece uma ampla área destinada para acampamento. Inclusive conta com estrutura com acesso a banheiros e chuveiros. Na época em que fiz, não havia cobrança de taxa, mas é necessário agendar a visita com os funcionários do parque. Para saber mais confira a seção Contatos.

No dia seguinte, logo cedo, organizamos as mochilas e seguimos para o Parque Ambiental, nosso ponto de partida — e também de chegada — do trekking. Fomos recebidos calorosamente pelos funcionários, que cuidam do local com bastante zelo. O percurso do dia combinava estrada de terra e trilhas bem abertas e demarcadas, com pontos de água pelo caminho.

A primeira etapa foi a subida da Serra da Água Fria até a comunidade do Juçaral, no alto da serra. O esforço inicial foi recompensado pelas três cachoeiras que encontramos ao longo da subida. Elas são formadas pelo mesmo riacho que desce a serra e alimenta o Rio Natuba, um dos afluentes do Rio Paraíba.

A primeira parada foi na Cachoeira da Bica Grande, localizada a poucos passos da entrada do parque. Com seus 77 metros de altura, é considerada a maior queda d’água perene da Paraíba. Como chegamos cedo em um sábado, ainda havia poucas pessoas, mas nos fins de semana o local costuma ficar bem movimentado devido ao fácil acesso.

Seguimos a subida até a Cachoeira do Sossego, a segunda do trekking. Seu acesso exige um pequeno desvio à direita para alcançar a parte baixa. Deixamos as mochilas acima e descemos para apreciar a queda, que se espalha suavemente pelas rochas devido à pouca inclinação.

Mais adiante, alcançamos a Cachoeira das Três Quedas, formada por três quedas em sequência. Após contemplar as três cachoeiras, retomamos a subida, agora mais íngreme, até chegar à comunidade do Juçaral.

Ao sair da mata, entramos numa estrada rural e seguimos à esquerda em direção ao Parreial da Serra, nossa segunda atração do dia. São cerca de 1 km até a casa do produtor. Para mais informações sobre o local, confira a seção Contatos.

O Parreial da Serra produz vinhos e geleias artesanais e abre para visitação e degustação. Não encontramos o proprietário, mas conversamos com um vizinho e visitamos por fora o parreiral. Como não era época, não vimos cachos de uva. Caso queira ter a experiência de visita das uvas, a melhor época para visitação é a partir de outubro.

Depois de algumas fotos, seguimos pela estrada rural até o Bar Recanto da Mata, onde paramos para almoçar. São cerca de 4 km nesse trecho, margeados por plantações de banana e com duas opções de água de riacho no caminho. Caso prefira, moradores locais também costumam ceder água.

Mesmo sem termos combinado antes, a proprietária preparou um almoço que caiu como uma luva. Na seção Contatos, deixei o contato da proprietária caso queira combinar de almoçar.

Esta é a última casa de morador onde se pode conseguir água. Mais à frente, o próximo ponto está nos córregos da serra — mas não há garantia de que eles estejam com água.

Revigorados, partimos rumo ao ponto de acampamento, a 3,5 km dali. Seguimos por uma estrada até entrar na Mata do Siriji (também conhecida como Mata do Estado), em trilha bem aberta e demarcada.

Após atravessar a mata e um riacho que forma um lago, chegamos a uma estrada às margens dele. Nesse ponto é possível seguir pela estrada ou pela trilha à direita, acompanhando o lago.

O percurso retorna à estrada e termina em outra área de mata, onde pegamos uma trilha estreita à frente. Inicialmente fechada, ela logo se abre e desce de forma íngreme até uma estrada carroçável que atravessa plantações de banana.

Pequenas valas com água serviram como último ponto de abastecimento para o dia, já que no acampamento não tem água próxima.

A partir dali, seguimos por uma trilha à esquerda, que entra na mata e sobe até uma área de campo, que fica próximo ao local do acampamento.

O trajeto alterna trechos íngremes e passagens mais fechadas, mas está bem demarcado. Do alto, a vista é recompensadora: a serra se descortina, com panorama para a cidade de Machados.

Seguimos pela estrada da fazenda até o local de acampamento, onde montamos nossas barracas ainda ao pôr do sol, contemplando a bela paisagem da Serra da Água Fria.

Dia 2 – Serra da Água Fria à Natuba

Distância: 10,3 km | Elevação: 376 m

Este dia teve percurso predominantemente por estrada de terra, com exceção dos acessos às cachoeiras, que seguem por trilhas. O primeiro objetivo era explorar a Cachoeira do Descanso e algumas quedas d’água no leito do riacho de mesmo nome da cachoeira.

Levantamos acampamento cedo e seguimos pela mesma estrada que chegamos no dia anterior. Em pouco tempo chegamos a um ponto com vista panorâmica para o Açude do Estado. Cercado pela mata, de longe, verifiquei que o sangrador estava liberando água — um bom sinal de que a cachoeira teria um bom fluxo.

Na próxima bifurcação, pegamos à direita e descemos até o nível do riacho. Passamos por uma porteira e seguimos à esquerda pelo leito. Próximo dali, visitamos a primeira queda d’água, cujo acesso estava prejudicado pelo mato alto, mas conseguimos chegar perto.

Em seguida, fomos à segunda queda, acessível pelo outro lado do riacho, também com vegetação densa. Saindo da segunda queda, seguimos em direção à Cachoeira do Descanso, o verdadeiro achado do trekking. Após uma breve subida, voltamos à estrada e pegamos à direita, seguindo novamente ao leito do riacho.

À esquerda, descemos até as duas primeiras cachoeiras do dia: a Cachoeira das Duas Quedas e, logo abaixo, a Cachoeira do Descanso. Essas quedas eram novidades para mim, ainda não aparecendo no Google Maps e são pouco conhecidas pela região — um verdadeiro achado no trekking.

Ao chegar, percebi outra queda mais adiante, com a água despencando de grande altura, formando uma bela visão do vale. Deixamos as mochilas no topo e seguimos até a base.

A trilha para descer à parte inferior corre pelo lado direito do riacho. É de difícil acesso, com trechos íngremes e expostos, exigindo bastante cuidado. Não há trilha bem demarcada, mas o caminho é intuitivo, aberto entre árvores. A área foi bastante alterada para a instalação de canos que canalizam a água.

Na base da cachoeira, ficamos impressionados. Aproveitamos para tomar banho e nos refrescar após o esforço da descida, uma bela recompensa.

A subida de volta exigiu atenção. Usamos raízes, caules e pedras para apoiar-nos, mas algumas rochas estavam soltas, exigindo cuidado. No topo, pegamos as mochilas e seguimos por uma trilha discreta à direita, aberta na mata, até retornar à estrada junto a uma porteira. Dali em diante, o percurso seguiu inteiramente por estrada rural.

Descemos por entre uma plantação de bananeiras até chegar à Comunidade Descanso. Ao perguntar aos moradores sobre a queda d’água, os mesmos informaram que se tratava da Cachoeira do Descanso.

Continuamos a caminhada pela estrada, margeados por plantações de bananas, com alguns pontos de água ao longo do caminho.

O próximo ponto de parada foi uma Gameleira centenária, pouco depois da divisa entre Pernambuco e Paraíba.

Mais à frente, chegamos à fazenda que abriga a Cachoeira do Encanto, em Natuba. Entramos à direita na trilha, deixando a mochila mais adiante. O percurso até a cachoeira é bem demarcado e aberto, com várias quedas d’água ao longo do riacho.

O acesso à cachoeira custa R$ 10 por pessoa e deve ser combinado previamente com o proprietário. Após a visita, retornamos pela mesma trilha até a estrada e seguimos até Natuba, chegando novamente ao Parque Ambiental de Natuba.

Dicas e Recomendações

  • Leve seu lixo de volta, feche as porteiras/tronqueiras, evite danificar as cercas;
  • Lembre-se, você é inteiramente responsável ao decidir e realizar a trilha. Use por sua conta em risco. As informações presentes aqui visam apenas serem informativas e auxiliares;
  • Nível de orientação intermediário, recomendada apenas para quem tem habilidade com GPS offline ou mapa e bússola;
  • Esforço físico moderado pela distância e terreno, possuindo algumas subidas e descidas íngremes. Para iniciantes ou pessoas sem condicionamento físico pode ser uma trilha de alta dificuldade principalmente devido ao peso da mochila;
  • Propriedades particulares no caminho, seja gentil e peça permissão para passagem;
  • Fiz após a época das chuvas e por isso há pontos de água pelo caminho;
  • Planeje bem a quantidade de água, principalmente se for fazer na época da estiagem;
  • Comunidades no percurso é importante o silêncio e respeito aos costumes locais. Seja gentil e peça permissão para passagem;
  • A progressão da trilha depende do terreno, estado da trilha, da sua condição física, da navegação, etc. Se conheça primeiramente para poder chegar com segurança antes do final do dia no acampamento. Alguns pontos de acampamento intermediários podem ser encontrados no caminho;
  • A maior parte da trilha é exposta ao tempo, protetor solar e chapéu são importantes;

Contatos

Estes contatos oferecem serviços confiáveis e confortáveis, tornando sua logística muito mais tranquila.

Caso sua empresa não esteja na lista, basta enviar seu dados pelo formulário de contato. Não custa nada e é super simples!

🍴 Restaurantes

Bar Recanto da Mata

Outros

Parreial da Serra

  • Parreiral com visitada guiada e vinhos e geleias artesanais
  • Contato:

Parque Ambiental de Natuba

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